sexta-feira, 20 de julho de 2012

Bancos médios

Temos um cenário em que o Banco Central, preocupado com os bancos médios, vem monitorando de perto a evolução das carteiras destas instituições, sua liquidez e sua forma de atuar.
A economia brasileira recuou nos últimos meses, aparentando sua real paralisia e completando o cenário de baixo crescimento mundial. A crise econômica da Europa é sim um problema mundial, exceto talvez para o Oriente Médio que voltou sua atenção à sua vocação, o petróleo.

Além disso, a China apresentou números da economia muito abaixo dos patamares anteriores, esfriando ainda mais as expectativas frente a uma forte retomada econômica, com crescimento muito moderado, incapaz de manter aquecida a demanda mundial de minério e outros serviços que até então consumia de forma veemente.
Por aqui, nossas autoridades monetárias baixaram mais uma vez a taxa básica de juros, a SELIC, tentando aplicar uma injeção de ânimo aos agentes, tentando ampliar as expectativas produtivas e manter os investimentos nas linhas de produção, trazendo consigo a manutenção dos empregos e geração de renda.
Com a queda da taxa de juros SELIC, espera-se novamente um movimento de quedas de juros ao consumidor final, fato este que cada vez mais vem de descolando dos movimentos da taxa básica de juros. Significa dizer que, o crédito direto ao consumidor e as outras taxas estão cada vez menos correlacionadas com os movimentos da SELIC, e isto pode prejudicar a evolução da política econômica do governo de tentar estimular a economia.
Além disso, nosso sistema bancário parece passar por um momento de (leve) stress, mas que chama a atenção pela forma como se constitui. Obviamente ainda não estamos em um cenário em que os grandes bancos estejam sem liquidez ou endividados, sem recursos para manutenção de seu fluxo de operações. Não estamos com nossos bancos em dificuldades, nem lotados de ativos podres.
Temos um cenário em que o Banco Central, preocupado com os bancos médios, vem monitorando de perto a evolução das carteiras destas instituições, sua liquidez e sua forma de atuar.
Muito disso, é preciso lembrar, iniciou quando alguns bancos enfrentaram dificuldades severas em suas operações, tendo como caso emblemático o banco Panamericano. Em sequência vieram outros banco médios, com severas dificuldades.
A análise parte da idéia de que, os bancos médios, que possuem seu foco de atuação principalmente centrado em crédito à pequenas e médias empresas, não possuem uma capilaridade de agências para captar depósitos como os grande bancos fazem. Assim, vem sofrendo com a ausência de crédito externo para financiar suas operações, tendo de captar recursos internamente e de outras formas.
Outro ponto é que, a tomada de empréstimos consignados, que geravam carteiras de ativos que poderiam ser transacionados com outras instituições, vem minando a cada dia, e a tendência, com a entrada de novos agentes é que isso se agrave. Entenda "minar" como significado de redução das margens de lucro, visto que em termos de operação, a tendência é de crescimento.
Assim, sem uma rede de captação de depósitos, o custo do capital para os bancos médios vem subindo paulatinamente, e isso traz perda de lucro e, por conseguinte perda de competitividade. Um cenário em que os grandes bancos podem aproveitar das fragilidades de seus pares menores, e adquiri-los.
Já existiu no passado recente uma onda de vendas de carteiras de financiamento de veículos, por exemplo, de bancos médios para grandes bancos, uma vez que os bancos menores não estavam conseguindo um nível de juros competitivos capaz de garantir retorno as suas carteiras de empréstimo, e precisavam de capital para gerir seus negócios mais rentáveis.
Outras instituições justificaram a venda de suas carteiras de crédito como movimento estratégico, retomando o foco para suas operações principais, livrando-se de operações acessórias e menos rentáveis.
Ainda em uma variável a agregar, é importante lembrar que, quando os bancos médios afrouxam as necessidades de garantias para a concessão de empréstimos, a inadimplência sobe. Ou seja, quando os bancos médios tentam ampliar o risco da base de clientes, acaba-se aumentando as provisões para calotes de inadimplentes, e é isso que o Banco Central vem monitorando de perto.
Logo, quando se aumenta as provisões para calotes e dívidas, se reduz os recursos disponíveis para empréstimo, o que faz com que os bancos tenham que captar mais recursos em um cenário hostil, sem liquidez externa a alto custo.
A alternativa encontrada pelos bancos médios para captação de recursos é a venda de CDB´s com alta rentabilidade, sendo até 110% do CDI, enquanto um banco grande paga para investidores qualificados na faixa de 95 a 100% do CDI.
Outros produtos de investimentos, como LCI e Debêntures também estão na pauta de negociação, garantindo boa lucratividade. Reitero a idéia de que não há um colapso no sistema bancário, principalmente para os bancos médios, mas sim, um movimento de monitoramento do Banco Central, de reconhecimento das operações.
Os bancos médios oferecem excelentes serviços, com produtos de investimento com boa rentabilidade e um atendimento mais personalizado do que encontrado em muitos grandes bancos.
A consolidação do sistema financeiro, digo, do mercado bancário pode trazer novas discussões sobre o modelo de segmentação entre médios, pequenos e grandes bancos. Há riscos para todos os tamanhos das operações, porém, o que venho observando é uma sobreposição dos grandes players sobre os pequenos, e isso, pode ser ruim para o perfeito funcionamento de nossa economia.
Fonte:- Brasil 247 por Antônio Teodoro é economista e professor

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